domingo, 12 de junho de 2016
Os fungos mais conhecidos são os bolores, os cogumelos, as orelhas-de-pau e as leveduras (fermentos). Nas classificações mais antigas, eles eram colocados no reino Vegetal, juntamente com as algas e as plantas. Posteriormente, alguns biólogos decidiram incluí-los no reino Protista, juntamente com as algas e os protozoários. A tendência atual, porém, é classificar os fungos em um reino à parte, em virtude de suas características altamente peculiares.
Diferente dos vegetais, os fungos têm nutrição heterotrófica, dependendo de matéria orgânica, viva ou morta, que lhes sirva de alimento. A maioria dos fungos vive no solo, alimentando-se de cadáveres de animais e plantas e de outros materiais de origem orgânica, como esterco, por exemplo. Eles liberam enzimas que digerem o substrato orgânico e absorvem, em seguida, as substâncias provenientes da digestão. Assim, os fungos causam o apodrecimento dos materiais e, por isso, são denominados saprófagos.
Sobre sua estrutura e organização, alguns fungos, como as leveduras, por exemplo, são unicelulares. A maioria, no entanto, é multicelular, constituída por filamentos microscópicos e ramificados, denominados hifas, que, em conjunto, formam o micélio. A hifa é um tubo microscópico que pode ou não apresentar paredes transversais (septos), delimitando as células. Muitos fungos tem hifas não-septadas, preenchidas por uma massa citoplasmática que contém centenas de núcleos, denominadas hifas cenocíticas.
Além do mais, as hifas, menor unidade fisiológica dos fungos, possuem uma parede celular quitínica, ou seja, constituída pelo polissacarídeo quitina. Essa mesma substância está presente do reino Animal, constituindo o esqueleto dos artrópodes. Alguns fungos, além de quitina, apresentam celulose na parede das hifas. Ademais, muitas espécies de fungos formam, em determinadas condições, estruturas denominadas corpos de frutificação, de tamanho e forma variados, que se formam apenas durante a ocorrência de fenômenos sexuais.
Dentro do reino Fungo, há a distinção entre quatro filos: os Phycomycetes (ficomicetos), os Chytridiomicota (quitriodiomicetos), os Ascomycetes (ascomicetos) e os Basidiomycetes (basidiomicetos). O principal critério para separar os fungos nesses quatro filos é o tipo de processo sexual e de estrutura reprodutiva que apresentam.
Os ficomicetos ou zigomicetos, pertencentes ao filo Phycomycetes, são os fungos mais simples e a maioria deles não forma corpo de frutificação. O nome do filo sugere essa simplicidade, pois “ficomiceto” significa “fungo semelhante a uma alga”. Muitos ficomicetos aquáticos formam esporos dotados de flagelos, os zoósporos, como também ocorrem em certas algas. Em geral, são saprófagos, alimentando-se de matéria orgânica em decomposição. Um exemplo bem comum é o bolor preto do pão, Rhizopus stolonifer. Além disso, os ficomicetos podem constituir micorrizas, associações que envolvem fungos e raízes.
Pode-se citar um tipo de reprodução sexuada realizada pelos zigomicetos, que ocorre quando micélios de sexos diferentes se encontram. Em Rhizopus, por exemplo, as hifas de sexos opostos formam hifas especializadas, chamadas gametângios, que um em direção ao outro; ao se tocas, os gametângios se fundem. Um ou mais núcleos haploides de um dos sexos se fundem aos do outro sexo, originando zigotos diploides. A região em que os gametângios se fundiram diferencia-se em uma estrutura esférica, de parede escura e espessa, onde os zigotos sofreram meiose e casa um originará quatro esporos haploides. Cada esporo, ao germinar, dará origem a um novo micélio.
Os ascomicetos, pertencentes ao filo Ascomycetes, formam estruturas reprodutivas em forma de saco, denominadas ascos. Existem formas unicelulares, chamadas de leveduras, e formas filamentosas, como os mofos e bolores. Os ascomicetos saprofágicos exercem importantes funções ecológicas, entre elas a decomposição de moléculas orgânicas muito resistentes, como a celulose e a lignina, ambas de origem vegetal, e o colágeno, de origem animal. O modo de vida parasitário também é comum. Além de saprofágicos e parasitas, alguns ascomicetos podem ser mutualísticos, formando micorrizas e a maioria das variedades de liquens.
A reprodução sexuada nos ascomicetos se dá por meio do encontro de hifas de micélios de sexos diferentes. Nesse caso, as hifas dos dois micélios se fundem, originando células com dois núcleos. Em algumas dessas células, os núcleos se fundem, produzindo um núcleo zigótico diploide. Este sofre meiose e origina núcleos haploides, que se diferenciam em ascósporos. A hifa onde tudo isso ocorreu se transforma em uma estrutura alongada, em forma de saco, denominada asco. Quando maduro, o asco se rompe, liberando os ascósporos. Ao germinar, cada ascósporo dá origem a um novo micélio haploide.
Os basidiomicetos, pertencentes ao filo Basidiomycetes, são cosmopolitas e vivem principalmente em ambiente terrestre e, em sua maioria, são comestíveis. A maioria dos fungos desse filo é saprófaga. Existem, porém, representantes parasitas. Certos basidiomicetos são mutualísticos, compondo micorrizas e liquens. Muitas espécies apresentam corpos de frutificação elaborados, chamados basidiocarpos, ou basidiomas, popularmente conhecidos como cogumelos e orelhas-de-pau.
A reprodução sexuada dos basidiomicetos é feita por meio do encontro de micélios diferentes que se fundem e formam um micélio com células binucleadas ou dicarióticas. Essas hifas organizam de maneira compacta, formando um corpo de frutificação denominado basidiocarpo, o cogumelo. No basidiocarpo, algumas hifas se diferenciam em estruturam especiais, os basídios, onde ocorre a fusão dos núcleos, resultando em um núcleo zigótico diploide. Este logo sofre meiose e origina quatro esporos haploides, os basidiósporos. Os basídios se localizam na parte inferior dos cogumelos. Na extremidade livre do basídio, localizam-se os quatro basidiósporos, que logo serão libertados. Ao cair em local adequado, rico em matéria orgânica, um basidiósporo germina e origina um novo micélio.
Os quitridiomicetos, pertencentes ao filo Chytridiomicota, vivem principalmente em ambientes de água doce ou salgada. São cosmopolitas, ou seja, existem em diferentes regiões do planeta. Podem ser parasitas ou saprófagos. Uma característica marcante desse grupo é a presença de células dotadas de flagelo em alguma fase da vida. Seu ciclo de vida apresenta uma fase diploide e outra haploide bem definidas. Todavia, a fase diploide não é efêmera.
Na reprodução dos quitridiomicetos, os núcleos dos gametângios (estruturas produtoras de gametas) geram, a partir da mitose, gametas haploides flagelados. No encontro de dois gametas de sexos opostos, ocorre a fecundação, que origina um zigoto diploide.Esse zigoto se desenvolve e forma um fungo diploide, esporófito. O esporófito produz tanto esporos haploides quanto diploides, que, ao germinarem, dão origem respectivamente a um gametófito n (haploide) e um esporófito 2n (diploide). Assim, o ciclo se reinicia, com a alternância entre as fases sexuada e assexuada.
Os conidiais, ou deuteromicetos, são também chamados de “fungos imperfeitos”, não sendo constituído um filo propriamente dito. A maioria deles é saprófaga e parasita, mas, no entanto, há alguns que são predadores e que estabelecem relações mutualísticas. São encontrados nos meios terrestre e aquático, no ar, no organismo humano, sobre a matéria orgânica de vegetais e de animais vivos ou mortos.
Além das formas de reprodução citadas, os fungos, de maneira geral, podem estabelecer reproduções assexuadas tais como: fragmentação, brotamento e esporulação. A maneira mais simples de um fungo filamentoso se reproduzir assexuadamente é por fragmentação: um micélio se fragmenta originando novos micélios. Por outro lado, leveduras como Saccharomyces cerevisae se reproduzem por brotamento ou gemulação. Os brotos normalmente se seprarem do genitos, mas, eventualmente, podem permanecer grudados, formando cadeias de células. Na esporulação, células dotadas de paredes resistentes germinam, produzindo hifas. Em certos fungos aquáticos, os esporos são dotados de flagelos.
Os fungos, de maneira geral, podem estabelecer relações com outros indivíduos por meio do mutualismo, parasitismo, comensalismo ou predação e, por esse motivo, exercem um importante papel para a manutenção da vida na Terra.
Como associação mutualística, é possível citar os líquens. Eles se associam a algas e/ou cianobactérias, de forma que oferecem proteção em troca do açúcar produzido por elas a fim de que sua nutrição seja estabelecida.
Além disso, é possível mencionar as micorrizas, que são as relações de mutualismo simbiótico constituídas de fungos e raízes de plantas. As hifas do fungo auxiliam a planta a absorver água e sais minerais, visto que aumentam a superfície de absorção. As plantas, por sua vez, retribuem os fungos fornecendo-lhes os fotoassimilados, dado que eles não são capazes de sintetizar os carboidratos.
Ainda relativo às relações mutualísticas, os fungos decompositores obtêm matéria orgânica das folhas que caem das árvores, por exemplo, e liberam enzimas, que resultam na produção de CO2 e água, a partir da celulose, e que serão reutilizados pelas plantas; amônia, a partir das proteínas, que é um nutriente extremamente importante para as plantas por ser fonte de nitrogênio; e fosfato, a partir da decomposição do DNA, que, também, será reabsorvido pelas plantas.
As associações de parasitismo dos fungos com outros seres podem ser amplamente observadas por meio do adoecimento de plantas, por exemplo, o que acarreta em um prejuízo, principalmente no setor agroindustrial. Podemos frisar a doença causada por um fungo parasita que é popularmente conhecida como pinta-preta, que ocasiona a incidência de manchas escurecidas nas folhas, nos caules e nos frutos dos vegetais.
Na espécie humana, os fungos também podem se apresentar como parasitas, ocasionando diversas patologias, como a candidíase, as onimicoses, as frieiras, entre outras. Há, também, tipos específicos de fungos que se instalam no amendoim e liberam uma substância chamada de aflatoxina, que pode gerar diversas doenças, tais como Hepatite B, problemas no sistema nervoso e até, câncer de fígado.
As relações de comensalismo envolvem os fungos saprófagos, que se alimentam de matéria orgânica morta por meio processo chamado de decomposição, no qual liberam enzimas digestivas no meio onde estão inseridas a fim de realizar a digestão extra-celular. Esse processo é essencial para a manutenção de ecossistemas, uma vez que decompõem cadáveres e resíduos orgânicos que, sem sua presença, ficariam acumulados no ambiente. Por isso podemos dizer que os fungos são os “lixeiros da natureza”, realizando a reciclagem da matéria constituinte dos seres vivos, já que os resíduos produzidos poderão ser utilizados por outros organismos.
Como exemplo de saprófagos pode-se citar o bolor, que se desenvolve em certos alimentos, como frutas podres. Os fios esbranquiçados que podem ser vistos na superfície correspondem às hifas do fungo. No entanto, isso também é uma desvantagem, já que o bolor pode ser prejudicial à saúde de outros seres vivos, como o homem.
Os fungos predadores obtêm nutrientes a partir do aprisionamento de animais muito pequenos ou microscópicos. É comum das hifas secretarem substancias aderentes que aprisionam os organismos que entram em contato com os fungos. Dessa forma, as hifas penetram no corpo da presa, crescendo ate absorver todos os seus nutrientes. Entretanto, alguns gêneros têm métodos mais elaborados. Um exemplo é o Arthrobotrys, que vive no solo e captura nematoides microscópicos através de suas hifas, que apresentam pequenos anéis que se estreitam quando uma presa passa por eles.
Torna-se evidente, portanto, que os fungos exercem suma importância tanto economicamente quanto ecologicamente. No campo econômico, os fungos podem servir como finas iguarias, como o champignon e o shitake; podem ser utilizados como fermentos na produção de pães e bolos através da fermentação alcoólica realizada pelas leveduras, além de iogurtes, vinhos e queijos; possuem um aspecto fundamental: o emprego na indústria farmacêutica na produção de antibióticos como a penicilina, acidentalmente descoberta em 1929 por Alexander Fleming e que é usada ate hoje no combate a doenças. No campo ecológico, os fungos reciclam a matéria orgânica e associam-se a outros organismos promovendo vantagens a ambos, além de sua participação em teias alimentares. Há fungos causadores de micoses nos seres humanos, que prejudicam plantas e alguns organismos podendo levando-os à morte, porém sua presença é fundamental para a manutenção dos diversos ecossistemas presentes na Terra. A sua presença nem sempre é notada, pois mesmo que alguns desses organismos possam ser vistos macroscopicamente não se tem a noção da sua real importância, no entanto, a sua ausência resultaria na extinção de espécies e levaria o mundo aos caos do meio ambiente
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