quarta-feira, 30 de março de 2016

Virus "mestiço" é descoberto

A descoberta de um novo tipo de organização nuclear do citomegalovírus humano representa uma revolução no conhecimento científico da virologia.
Citomegalovírus contém dois tipos de ácidos nucléicos, RNA e DNA, o que põe em xeque um princípio da virologia
Citomegalovírus, que tem DNA e RNA, infecta células humanas
ISABEL GERHARDT

DA REPORTAGEM LOCAL

Os livros de biologia deverão, obrigatoriamente, ter pelo menos um capítulo reescrito a partir de agora: o de virologia (estudo dos vírus). Isso porque pesquisadores da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, descobriram uma característica em um tipo de vírus, o HCMV (citomegalovírus humano, em inglês), que muda a maneira como os vírus são classificados: a partícula viral do HCMV contém tanto o composto DNA quanto o RNA.

De maneira simplificada, vírus podem ser definidos como partículas infectantes formadas de um genoma (material genético) envolto numa cápsula de proteína.

Esse genoma, que contém todas as "instruções" para que o vírus seja bem-sucedido ao infectar um organismo, pode ser constituído de moléculas de DNA ou de RNA. De acordo com o tipo de molécula que forma seu material genético, o vírus é classificado como sendo de DNA ou RNA.
Algo de diferente
O HIV, vírus da Aids, é um vírus de RNA, já que é desse tipo de ácido nucléico que seu genoma é feito. Já o papiloma, vírus associado ao câncer de colo de útero, é um vírus de DNA, porque seu material genético é constituído desse outro ácido nucléico.

Os pesquisadores da Universidade de Princeton perceberam que havia alguma coisa de diferente com o HCMV quando, ao isolar partículas do vírus de células humanas, isolaram também moléculas de RNA. Até então, o HCMV era classificado com sendo de DNA, ou seja, somente esse material estava presente nas partículas do vírus.

Depois de alguns experimentos que descartaram a hipótese de que esse RNA fosse um contaminante celular, os cientistas descobriram que, dentro da partícula viral, além do genoma de DNA, havia quatro tipos de RNA.
Nova definição
"Nossos resultados mudam a definição do que é um vírus de DNA", disse à Folha Thomas Shenk, um dos autores do estudo, que saiu publicado em junho na revista americana "Science".

Shenk afirma que ele e seus colaboradores ainda não sabem qual a função desses RNAs. "Um deles codifica uma proteína que pode estar envolvida na interação entre a célula infectada e o ambiente, evitando uma resposta do sistema imunológico (de defesa) do organismo", especula.

O pesquisador afirmou ser possível que outros vírus da família do HCMV também contenham RNA no interior da partícula viral. "A arquitetura desses vírus é muito similar", afirma.
Presença de RNA permite ataque mais rápido
DA REPORTAGEM LOCAL

Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios. Ou seja, eles só podem se multiplicar dentro de uma célula hospedeira. Por não possuírem "equipamento" que permita produzir suas próprias proteínas, eles precisam infectar um organismo para fazer uso do seu maquinário celular.

Quando o HCMV infecta uma célula, o DNA (material genético) viral é transportado até o núcleo da mesma. A partir daí, começa a "dar ordens" para que a célula produza as proteínas do vírus.

Com a presença do RNA na partícula viral, certas proteínas serão imediatamente produzidas após a infecção, antes mesmo que o DNA atinja o núcleo. "Quanto mais rápido o vírus tomar conta da célula, melhor para ele", disse à Folha Wade Bresnahan, o outro autor da pesquisa.

O HCMV pertence à subclasse dos herpesvírus, agentes causais do herpes e da mononucleose. Ele é o maior dos herpesvírus, com um genoma de mais de 235 mil pares de bases ("letras" químicas do código genético) e 200 genes.
Apesar de não causar sintomas num indivíduo saudável, o HCMV pode ser fatal em pessoas com o sistema imune (de defesa) comprometido, como portadores do HIV ou pacientes que tenham sofrido um transplante. (IG)

Fonte: Folha de São Paulo - São Paulo/SP
  

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